“Éramos poors e não sabíamos: Como a crítica literária (não) influencia os leitores” é o tema da mesa 2, com Afonso Cruz, Ana Margarida Falcão, Eduardo Pitta e Júlio Magalhães, moderados por Ana Isabel Moniz.
Ana Margarida Falcão começa na Universidade e no conhecimento que os estudantes têm (ou não) da literatura portuguesa contemporânea, passa pela imagem da crítica literária como uma espécie de agência de rating e termina na divisão entre a boa e a má literatura (ainda que com outros nomes e sem lhe dar grande importância), manifestando a sua esperança no bom senso dos leitores para fazerem as melhores escolhas.
Eduardo Pitta apresenta algumas das mudanças pelas quais passou a crítica literária, lembrando os jornalistas/publicistas que, até aos anos 50, a assinavam e assinalando as mudanças do cânone literário ao longo do tempo com exemplos do antes e do depois do 25 de Abril.
Depois de referir a importância da percepção no modo como lidamos com qualquer coisa, da crise de que toda a gente fala à crítica de que a mesa deveria falar, Afonso Cruz cita A Realidade É Real?, de Paul Watzlawick (editado pela Relógio d’Água), onde se apresentam vários exemplos de como o modo como olhamos para as coisas e o grau de atenção que lhes damos define, por vezes com diferenças abissais, aquilo que realmente vemos. E, sim, isto tem tudo a ver com a crítica literária.
Júlio Magalhães separa a leitura como prática cultural ou de entretenimento da leitura mais dedicada, com leitores que não querem apenas ler um livro, mas sim conhecer os projectos do autor, o contexto do que faz e as suas linhas de força. E tendo em conta esta separação, acredita que a crítica literária nem sempre responde aos anseios e interesses de quem lê. Curiosamente, e para calar alguns preconceitos relativamente a quem escreve best-sellers (é o caso de Júlio Magalhães, que começou por dizer que não é um escritor a sério, ainda que escreva livros), discorda publicamente do hábito de atribuir estrelinhas aos livros. Estou capaz de saltar para cima do palco e dar-lhe um abraço, mas preferia que os editores de jornais, revistas e suplementos culturais lhe dessem ouvidos (e se o argumento para ouvir alguém é o do número de vendas, este homem tem de ser ouvido). A encerrar, apresenta uma opinião sobre a relação, pouco fogosa, entre os livros e os ecrãs: tendo em conta que a televisão nos entra pela casa dentro diariamente, a literatura não soube tirar partido dela, preferindo fugir dos ecrãs, e talvez tivéssemos alguma coisa a ganhar se invertêssemos esta situação. Da plateia surgem contributos que, fugindo de uma visão unívoca, parecem atestar o pouco interesse das televisões por certas abordagens da literatura e da edição de livros, mas igualmente a dificuldade de alguns autores se relacionarem com a televisão.