“Éramos piegas e não sabíamos: Como a lamechice influenciou a nossa literatura” é o tema da quarta mesa do FLM. Joel Neto, Manuela Ribeiro, Paulo Sérgio BEJu e Valter Hugo Mãe discutem, Diana Pimentel modera.
Joel Neto começa por manifestar a sua felicidade por estar na Madeira, podendo, com isso, confirmar que “é uma ilha quase tão bonita como as dos Açores”, e ainda assim a audiÊncia, muita, não se revolta… E confirma que, sim, é piegas, sobretudo se por piegas entendermos o indivíduo que dá atenção a coisas comezinhas e sem importância, para depois ler um excerto do seu novo romance, a publicar em Abril (Os Sítios Sem Resposta, Porto Editora).
Manuela Ribeiro assume a pieguice desde o início, e diz-se comovida por estar aqui, no Festival Literário da Madeira (para quem possa não saber, Manuela Ribeiro é uma das responsáveis pelas Correntes d’Escritas). Cruzando os comentários sobre pieguices lançados na sequência daquela intervenção infeliz mas sonora do primeiro-ministro com referências do seu universo de leituras, de Eduardo Lourenço a Rui Zink, passando por Hélia Correia, Rubem Fonseca ou Eça de Queirós, Manuela Ribeiro acaba por enfrentar o tema com elegância, homenageando a literatura sem fugir ao cerne da questão: sim, somos piegas (e gostamos disso), “não, a literatura não é lamechas ou piegas, mas a lamechice e a pieguice podem ser literatura”.
Paulo Sérgio BEJu, ilustrador entre escritores, aproveita a deixa de Joel Neto sobre os piegas e a sua dedicação às coisas sem importância para mostrar alguns dos seus trabalhos, confirmando o seu interesse por tais coisas, fonte de inspiração para as suas composições visuais.
Depois de declarar a sua firme intenção de arranjar forma de passar dois meses no Curral das Freiras, a escrever, Valter Hugo Mãe não foge ao consenso da mesa, confirmando a sua pieguice e presenteando o auditório com várias histórias sobre a facilidade das suas lágrimas, que não distinguem, no que à comoção e à tragédia diz respeito, a alta poesia das novelas televisivas. E termina lendo um texto sobre o trabalho de Paulo David, autor do edifício da Casa das Mudas, que, espero bem, alguém há-de publicar.
Bons momentos de reflexão.
Foi, de longe, a melhor mesa.