Darwyn Cooke, Parker. O Caçador/em>

Parker 01
Darwyn Cooke
Parker. O Caçador
Devir/ Biblioteca de Alice

Parker, a personagem literária criada por Richard Stark (pseudónimo de Donald Westlake) em 1962, ganhou contornos de culto com o passar dos anos e o crescimento da série de romances onde foi protagonista. Hollywood revisitou-o mais do que uma vez, levando as suas histórias policiais ao grande écrã, e a banda desenhada acabou por se render à fleuma deste ladrão com tanto de herói como de pícaro.

Parker. O Caçador adapta o primeiro volume da série literária de Stark pela mão de Darwyn Cooke, autor cujos trabalhos mais conhecidos andam pelos territórios dos super-heróis na DC Comics. O trabalho de adaptação é engenhoso, na medida em que Cooke equilibra a construção de uma narrativa que, partindo do romance, cria a sua própria dinâmica no modo como explora os abismos psicológicos de Parker, com uma homenagem visual a uma certa estética noir onde ecoam os livrinhos da pulp ficcion, os filmes policiais dos anos 50 e 60 e uma reinterpretação desse universo a partir de um trabalho plástico inovador. A conjugação de planos, fazendo suceder os planos de pormenor que focam a acção num pequeno gesto, num objecto, num local, e os grandes planos que constroem o ambiente nova-iorquino dos anos 60, onde Parker surge para vingar o seu passado recente de ladrão enganado (pelo parceiro, mas também pela mulher que amava) é um dos elementos que engrandece esta adaptação. Cooke cria uma gramática visual cujas texturas e jogos de luz e sombra se revelam essenciais para a narrativa. Entre essa gramática e o exímio trabalho dos planos, sempre certeiramente construídos, mesmo quando recorrem às grandes porções de texto em legenda para a caracterização de Parker e do seu passado, o autor assina um livro cujo mérito transforma a adaptação da obra que lhe deu origem num detalhe, relevante para a exegese, mas prescindível perante a grandeza autónoma que aqui se alcança.

Sara Figueiredo Costa
(publicado na E/Expresso, Agosto 2015)

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