Ainda a censura a João Ubaldo Ribeiro

A edição do Expresso do dia 25 de Abril de 2009 traz uma chamada de capa para a notícia de que A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, voltou a ser censurado pelo grupo Auchan. Primeiro foi a edição da Dom Quixote, há dez anos atrás, e agora volta a acontecer tudo com a reedição das Edições Nelson de Matos. O senhor responsável pelas compras do grupo de supermercados, de seu nome Fernando Fernandes, disse ao Expresso que “era uma falta de chá” questioná-lo sobre o tema e a agência de comunicação que representa a empresa esclareceu que o grupo “não vende produtos do foro pornográfico” e que “o referido livro, em virtude da sua linguagem, enquadra-se neste conjunto de artigos”. Já Nelson de Matos, que era editor da Dom Quixote na altura em que a primeira edição do livro foi publicada, diz que em 20 anos de carreira como editor, nunca teve um episódio como este, acontecido há dez anos e agora repetido. E diz mais: “Isto é uma vergonha para nós, portugueses, e uma deselegância das relações culturais entre Portugal e o Brasil. Um júri de conceituados intelectuais portugueses e brasileiros deu ao autor o Prémio Camões, da nossa língua”. Pelos vistos, basta uma cadeia de supermercados para nos lembrar da pequenez intelectual dos que decidem o que devemos ou não conhecer.

12 comments

  1. seria cómico se não fosse quase trágico. um falso pudor que exala um odor bafiento a cruzada.

  2. É esta a nova censura!
    Pode-se falar, dizer e escrever livremente, mas depois, não se chega ás pessoas por conveniência de alguns. Esses alguns dominam o poder politco através do poder económico e vice-versa. Depois é isto que se vê.

  3. O grupo Auchan não é o único vendedor de livros!!! Logo podem dirirgir-se para o pequeno comércio onde não existe censura (LIVRARIAS). Distribuam-se as riquezas E se queremos ser respeitados aprendamos a respeitar o pensamento de cada um.
    VIVA 0 25 de Abril de 1974 que nos deu a LIBERDADE de ter uma opinião diferente dos “grandes senhores” e Jornalistas.

  4. Gente medrosa. Não há nada a fazer. Preferem fazer coisas às escondidas para que não se pense mal deles.

  5. QUAL CENSURA???

    Qual é o problema se um supermercado decide não comercializar um livro? Não existem mais postos de venda à disposição dos leitores? (todas as livrarias e outros supermercados?)
    Onde é que está a censura?
    Será que eu sou obrigado a colocar à venda no meu estabelecimento um artigo que não desejo, só porque é o sr, Ubaldo, prémio Camões?

  6. Repito o meu e-mail, dado ter tido indicação que cometi um erro.
    Cumprimentos
    NM

  7. Caro Nelson de Matos,

    fiquei sem perceber se me enviou um mail, ou se enviou um comentário anterior que deu erro… Até agora, não recebi nenhum mail seu no e-mail deste blog. Mas vou estar atenta.

    Cumprimentos,
    Sara

  8. Pessoalmente fiquei um pouco chocado com o histerismo do editor e do autor, a meter o nome de ‘Portugal’ e dos ‘Portugueses’ ao barulho, a gritar ‘Censura!’.

    Uma empresa escolheu não comercializar um livro. É uma decisão tomada diariamente, talvez não de forma tão aberta. Não é uma empresa com grande quota de mercado, está sozinha no fenómeno, e no entanto alguém achou apropriado fazer este alarido.

    Se eu tivesse uma livraria recusar-me-ia a vender alguns livros, porque os considero plagiados, porque me ofendem pessoalmente. É uma decisão comum e banal. Não agrada, mas é real.

    O Grupo Auchan não tentou que o livro fosse retirado do mercado, não revelou uma tendência de selecção retirando todos os livros sobre sexualidade, por exemplo. Simplesmente não o escolheu para si.

    Chama-se democracia. Porque é que isso assusta tanta gente?

    Temos liberdade de comprar noutro lado.

    Fiquei chocado com o histerismo do editor e autor. Viveram durante a ditadura no Brasil e em Portugal, sabem que a verdadeira censura é algo bem mais insidioso e violento do que isto.

    Esperava mais bom senso em vez de um golpe publicitário.

  9. Olá, Sara, boa noite.
    Quis de facto acrescentar um comentário, um pequeno comentário de esclarecimento, mas cometi um erro qualquer ao enviá-lo; em vez disso apagou-se, perdeu-se.
    O que queria dizer é que não há duas Censuras, nunca houve que me lembre eu. Por um lado, uma Censura levezinha, branda, tolerável, que a gente até admite quando está bem disposto. Por outro, uma Censura pesada, intolerável, que magoa, faz doer.
    Não. Só há uma Censura, pesada ou branda tem sempre um só significado, e esse significado denota o mesmo tipo de mentalidade, a mesma filosofia, os mesmos princípios de comportamento. Num caso como este, o acto de impedir a livre circulação de um texto literário, é sempre um acto inconstitucional e abjecto de censura. Não há tolerância que lhe possa valer. Ainda mais se praticado sobre o trabalho de um grande escritor da nossa língua.
    Obrigado pelo acolhimento neste espaço.

  10. Não podia estar mais de acordo. E aproveito para recomendar a leitura da crónica de Pedro Mexia, no Público do último sábado, a propósito disso mesmo.

  11. Pessoalmente, choca-me que alguém equipare a Censura de Estado, que proíbe um texto, o queima em praça pública, persegue o autor, e a censura de uma empresa em democracia que faz a escolha, errada ou não, de não vender um livro.

    Choca-me porque se não se é capaz de ver a diferença, como o diz Nelson de Matos e concorda a autora do blog, então não se sabe qual é a diferença entre democracia e ditadura. E se não se conhece essa diferença, não se consegue defender a democracia.

    Não deixa de ser também interessante, que esta mesma opinião, que penso expressei de forma razoável, tenha sido repetidamente censurada no blog do Nelson de Matos.

  12. Este Ubaldo representa a inversão generalizada que predomina nos meios que se dizem intelectuais daqui e de fora.
    As pessoas confundem facilidade de expressão com facilidade de entendimento ou , equilibrio . Tudo que êle escreve está carregado de uma mágoa e de uma incompreensão gigante .
    É o eco de sua voz interior .
    Êle vive até hoje na insegurança de sua infancia.
    O que se esperar dele e de sua escrita senão a disseminação de um mal estar fantasiado de primor vaidoso?
    Quem o lê não percebe isso , está dissimulado , é claro , e se assim não fosse , como êle conseguiria viver da venda de seus livros , sem ter que trabalhar ?

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